Colunista do UOL
14/09/2022 12h37
Num gesto inédito, mais de 160 entidades da sociedade brasileira recorrem à comunidade internacional para pedir apoio contra qualquer tipo de ruptura democrática no país. A iniciativa ocorre às vésperas do dia internacional de defesa da democracia, marcado para esta quinta-feira.
As organizações pedem maior atenção às ameaças ao processo eleitoral e solicitam que estas instituições internacionais e governos sejam vocais e demonstrem, de forma concreta, que estão atentas e acompanhando a situação nacional.
As ameaças proferidas pelo presidente Jair Bolsonaro e seus aliados têm de fato mobilizado a sociedade civil em ações internacionais. Foram missões e apelos como esse que levaram congressistas norte-americanos a escrever uma carta ao presidente Joe Biden, pressionando para que a Casa Branca se recuse a dar qualquer sinalização de apoio ao governo brasileiro em seus ataques contra a democracia.
Na ONU, os alertas também surtiram efeito, com a alta cúpula da entidade se mobilizando para mandar mensagens claras contra qualquer ruptura. Nos últimos dias, uma missão de ativistas brasileiros também esteve com representantes europeus, solicitando que o resultado da eleição no país em outubro seja imediatamente reconhecido pela UE, num esforço para enfraquecer Bolsonaro.
Em preparação ao lançamento da carta de alerta, na última semana de agosto, representantes dessas entidades realizaram em Genebra mais de 30 reuniões bilaterais com países-membros das Organizações das Nações Unidas, denunciando os sucessivos ataques do governo federal e de seus aliados no Congresso Nacional aos direitos humanos, a ativistas que os defendem e às instituições democráticas.
"Apesar de todas as missões com as quais conversamos demonstrarem que estão atentas, todas ficaram surpresas com o nível da tragédia que pudemos detalhar nesses encontros", diz Alessandra Nilo, coordenadora geral da Gestos e cofacilitadora do Grupo de Trabalho da Sociedade Civil para a Agenda 2030.
O documento é assinado por entidades como a Associação Brasileira de ONGs, ActionAid, Agentes de Pastoral Negros do Brasil (APNs), Artigo 19 Brasil, Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Católicas pelo Direito de Decidir, Centro Ecumênico de Cultura Negra, Conselho Nacional de Saúde, Geledes Instituto da Mulher Negra, Instituto Paulo Freire, Instituto Vladimir Herzog, Rede de Cooperação Amazônica RCA, UFRJ e USP.
"Alertamos que as eleições nacionais em curso no Brasil não representam uma comum disputa eleitoral para manutenção ou renovação dos representantes eleitos, mas significa um momento altamente crítico para a preservação da jovem e frágil democracia instaurada no país com a Constituição de 1988", dizem as entidades na carta.
"Nossa situação de retrocesso político, econômico, ambiental e social se agudiza pelas ameaças de rompimento da ordem democrática e são barreiras ao avanço dos nossos compromissos e metas internacionais para o desenvolvimento sustentável. Ressaltamos que o aprofundamento do autoritarismo e de políticas antidemocráticas podem levar o Brasil a um cenário de conflito e tensões ainda maiores", alertam.
"Pedimos, assim, maior atenção das autoridades, instituições internacionais e governos de todo o mundo comprometidos com a defesa de valores democráticos. E lhes pedimos que se posicionem de forma aberta em defesa da democracia, das eleições livres no Brasil e do total respeito ao seu resultado e ao espaço cívico da sociedade civil brasileira, em suas distintas faces", concluem.
Comments