ENTREVISTA A força do acolhimento: uma conversa com Alice Jorge Dino
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Por Karina Lindoso

Psicóloga, pedagoga, especialista em psicologia hospitalar, psicopedagogia, educação especial, gestão e trabalho em equipe multidisciplinar. Catequista, tia, filha, neta e amiga. Esse é um retrato de Alice Jorge Dino, uma mulher que dedica sua vida ao cuidado, à escuta e ao acolhimento.
Presidente da Rede Nacional de Combate ao Câncer e coordenadora das casas de apoio e do voluntariado da Fundação Antônio Dino, Alice lidera com sensibilidade e compromisso uma das maiores redes filantrópicas do país, que reúne quase 420 instituições em 19 estados brasileiros. Sua missão vai muito além da gestão: é transformar dor em esperança, levando amor, dignidade e tratamento a milhares de pacientes e suas famílias.
Nesta entrevista, Alice fala sobre os desafios e conquistas no combate ao câncer, a importância do voluntariado, os projetos em andamento e a motivação que encontra diariamente nos sorrisos e abraços de quem acolhe.
1. O que representa a Rede Nacional de Combate ao Câncer hoje no Brasil?
A Rede Nacional de Combate ao Câncer é uma instituição filantrópica, sem fins lucrativos, de credibilidade, que atua com a missão de prevenir o câncer e promover a saúde. Estamos presentes em 19 estados brasileiros, reunindo quase 420 instituições e mais de 20 mil voluntários que levam esperança, amor, carinho e tratamento para pacientes e suas famílias. Nosso trabalho vai além da saúde: inclui acolhimento social, gestão de voluntariado e campanhas de conscientização, como a “Preciso Viver”, que este ano chegou ao Senado Federal com uma petição para melhorar o tratamento dos pacientes oncológicos.

2. Qual a importância das casas de apoio da Fundação Antônio Dino para os pacientes e suas famílias?
A Fundação Antônio Dino, que integra a Rede, mantém casas de apoio voltadas a pacientes do interior do Maranhão que não têm condições de se manter na capital durante o tratamento. Nessas casas, oferecemos moradia, seis refeições diárias, medicação, consultas e exames que não são cobertos pelo SUS, além de cestas básicas quando retornam às suas cidades. Também promovemos atividades pedagógicas, oficinas, dança e dinâmicas que ajudam no fortalecimento emocional. Nosso maior objetivo agora é construir uma nova Casa de Apoio, mais ampla e humanizada, que também possa receber homens.
3. Quais são os maiores desafios no tratamento e acolhimento de pessoas com câncer?
Os principais desafios estão no diagnóstico precoce e na falta de centros especializados em todas as regiões. Muitas vezes, pacientes recebem apenas medicação para dor, sem investigação adequada. Quando conseguem o diagnóstico, enfrentam dificuldades para se deslocar até as capitais, deixando família, trabalho e casa para buscar tratamento. Além disso, há a questão de onde ficar e como ser acolhido. Por isso, defendemos um olhar mais humanizado não só para o paciente, mas também para os cuidadores e familiares.

4. Como você avalia o papel do voluntariado dentro dessa rede de apoio?
O voluntariado é o coração do nosso trabalho. Chamamos nossos voluntários de “anjos cor-de-rosa”: pessoas que doam tempo, amor e carinho sem esperar nada em troca, mas que recebem em bênçãos, sorrisos e abraços. Muitas vezes, os voluntários são quem acolhe pacientes sozinhos, tornando-se sua família em momentos de fragilidade. Eles são fundamentais no desenvolvimento, no tratamento e no acolhimento. O voluntariado é, para nós, o amor que transborda.
5. Há algum projeto novo ou parceria em andamento que gostaria de destacar?
Sim. Temos projetos em andamento tanto na Rede Nacional quanto na Fundação Antônio Dino. Na Rede, seguimos fortalecendo campanhas que valorizam o trabalho voluntário e ampliam o suporte aos pacientes. Na Fundação, estamos em plena mobilização com campanhas como o Setembro Dourado (câncer infantojuvenil), Outubro Rosa e Novembro Azul. Nosso grande foco é a construção de uma nova Casa de Apoio, que permitirá acolher mais pacientes com mais conforto, incluindo homens, sempre com prioridade no tratamento e no diagnóstico precoce.

6. O que mais a motiva pessoalmente nesse trabalho?
O que mais me motiva é cada sorriso, cada abraço, cada agradecimento que recebemos dos pacientes e familiares. Sei que não é fácil lidar com pessoas em tratamento, muitas em fase terminal, mas é gratificante sentir que, em algum momento, fizemos diferença na vida delas. Isso não tem preço. Essa motivação vem da gratidão que nos move todos os dias a continuar cuidando, abraçando e dando amor.
7. Qual mensagem você deixaria para pacientes, familiares e para a sociedade em geral?
Para a sociedade, digo: procure o médico regularmente, faça exames preventivos. O câncer tem cura quando diagnosticado no início. Para pacientes e familiares, reforço que não percam a esperança. O tratamento é difícil, mas nós estamos aqui para segurar a mão, chorar e sorrir junto. Também faço um apelo: muitas instituições filantrópicas dependem da ajuda da sociedade. Se cada um fizer sua parte, podemos garantir mais qualidade no tratamento e acolhimento. Sou apaixonada pelo que faço e, apesar das perdas, cada abraço e cada gesto de carinho me motivam a continuar essa missão.
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