Trama golpista: Mauro Cid e Ramagem falam ao STF e revelam bastidores
- Pra Começo de Conversa

- 9 de jun.
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A Justiça viveu um momento decisivo hoje com o início dos depoimentos dos réus do chamado “núcleo 1” da ação penal que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. Os primeiros a serem ouvidos foram o tenente‑coronel Mauro Cid, ex‑ajudante de ordens de Jair Bolsonaro, e o deputado federal Alexandre Ramagem (PL‑RJ), ex‑diretor da Abin. As sessões, conduzidas pelo ministro relator Alexandre de Moraes, foram abertas presencialmente na 1ª Turma do STF .
Mauro Cid: presenciou, mas não participou
Mauro Cid, que firmou acordo de delação premiada, foi o primeiro a depor. Confirmou ter presenciado reuniões nas quais foi apresentada a Bolsonaro uma minuta de decreto prevendo estado de sítio e prisão de ministros — mantendo apenas Alexandre de Moraes como alvo, sugerindo que o ex‑presidente “enxugou” o documento . O militar também revelou que houve repasse de dinheiro — entregue por Walter Braga Netto numa sacola de vinho — destinado ao major Rafael de Oliveira, integrante do grupo de força, conhecido como “kids‑pretos” .
Apesar das revelações, Cid sustentou que não participou diretamente das ações golpistas, limitando-se a “presenciar grande parte dos fatos” . Ele defendeu a voluntariedade do acordo de delação, negando qualquer coação pela PF, e explicou que gravações vazadas eram “desabafo emocional”, não relatos oficiais .
Alexandre Ramagem: “anotações privadas”
Durante seu depoimento de Alexandre Ramagem, ex-diretor da Abin, negou ter usado o órgão para monitorar ilegalmente ministros do STF ou TSE, e ressaltou que os documentos encontrados em seu dispositivo — intitulados “Presidente TSE informa.docx” e “Bom dia Presidente.docx” — eram meras reflexões pessoais e não teriam sido encaminhados a Bolsonaro .
Ramagem classificou os textos como “anotações privadas” destinadas a consolidar ideias, e não como plano golpista. Destacou que não há prova de fraude nas urnas, e nada foi enviado a Bolsonaro, mesmo com discussões durante a votação do voto impresso . Também negou contatos com Carlos Bolsonaro sobre inquéritos, afirmando que quando ocorreu, já não estava mais à frente da Abin .
A audiência, que durou cerca de seis horas, foi suspensa ao final do dia e será retomada nesta terça-feira (10), às 9h, com o depoimento do almirante Almir Garnier, ex‑comandante da Marinha . Ao todo, oito réus serão ouvidos até sexta (13), incluindo Jair Bolsonaro, Anderson Torres, Augusto Heleno, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto — este último por videoconferência, preso desde dezembro no Rio.
A denúncia da Procuradoria-Geral da República inclui crimes como organização criminosa armada, tentativa de golpe, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, grave ameaça e danos ao patrimônio público. Caso condenados, as penas somam mais de 30 anos de prisão .
A estratégia do relator Alexandre de Moraes parece ser ouvir primeiro o delator para municiar as fases seguintes dos interrogatórios. Nos próximos dias, a fase de oitivas possibilitará confrontar essas versões com depoimentos de outros acusados, preparando terreno para a fase final do mérito, esperada no segundo semestre.








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