Despedida ao mestre dos sons e sonhos: morre Wellington Reis
- Pra Começo de Conversa

- 22 de jul.
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Texto: Karina Lindoso
Na madrugada desta terça-feira (22), calou-se uma das vozes mais autênticas da cultura maranhense. Morreu o poeta, compositor, músico e produtor cultural Wellington Reis — um dos grandes nomes da arte popular do Maranhão. Internado desde maio, Wellington partiu em decorrência de uma infecção generalizada, deixando um legado que transcende o tempo e ecoa como os tambores da Madre Deus nas noites de São João.
Wellington não era apenas um músico. Era um alquimista da cultura, um engenheiro da alegria popular. Fundador do bloco Unidos do Regional Tocado a Álcool (URTA), nascido no coração da Madre Deus, ele reuniu talentos do Laborarte e do Coral São João em um projeto que era ao mesmo tempo festa e resistência. Mais tarde, fez brotar das ruas o irreverente Vagabundos do Jegue, um bloco que levava o riso e a crítica afiada nas marchas que cruzavam a cidade.
Fui amiga de longas datas desse grande artista. Tive o privilégio de caminhar ao seu lado, de ser assessora dos Vagabundos do Jegue, de dividir risos, ideias e até histórias de pescador — dessas que ele contava com os olhos brilhando e a alma leve. Cada conversa era uma aula, cada encontro, um convite ao encantamento.
Em 1985, foi dele a inspiração que batizou o Boizinho Barrica, hoje Bumba Meu Boi Barrica, um dos mais famosos e respeitados grupos folclóricos do Maranhão.
Mas sua arte não se limitava às ruas e terreiros. Na Universidade Federal do Maranhão (UFMA), liderou o grupo Terra e Chão, que celebrava e valorizava a cultura regional com rigor acadêmico e paixão popular. Também esteve à frente da Diretoria de Difusão Cultural da Secretaria de Estado da Cultura, durante o governo Roseana Sarney, onde ajudou a fomentar políticas públicas voltadas à valorização das manifestações populares.
Visionário, lançou um CD que misturava música e culinária maranhense, temperando receitas com poesia e som — uma obra inovadora que encantou paladares e ouvidos, e que só poderia ter saído da mente inquieta e criativa de Wellington.
Hoje, o Maranhão amanheceu mais silencioso. Mas nas vielas da Madre Deus, nos ensaios dos blocos, nas letras que ficaram, na memória de quem teve a sorte de conviver com ele, Wellington Reis permanece vivo. Porque artistas como ele não morrem, apenas mudam de palco.
Descanse em paz, mestre. E que os anjos te recebam com um tambor de crioula bem afinado.
O velório está sendo realizado na Central de Velórios, no Centro da capital, onde amigos, familiares e admiradores se reúnem para prestar a última homenagem ao artista que, desde a década de 1970, ajudou a esculpir os contornos da identidade cultural do Maranhão








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