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Tempo...Tempo...Tempo...


Texto: Karina Lindoso



Na música Ideologia, Cazuza fala “ meus heróis morreram de overdose..”. Dado algumas exceções, os meus heróis no campo cultural, principalmente na música, não estão morrendo de overdose. Eles envelheceram. A morte de Erasmo Carlos, aos 81 anos, acentua o retrato de uma geração maravilhosa, que encabeçou vários momentos da cultura brasileira, e que chegou, ou está chegando, na casa dos oitenta anos.


São anos bem vividos. De produção intensa. De protagonismo da nossa história, não só cultural. São artistas que enfrentaram a ditadura e romperam barreiras do preconceito. São artistas que do alto da sua pele enrugada e dos seus cabelos brancos, continuam na luta.


Estes artistas, utilizaram, e utilizam, os seus talentos, para lutar contra a censura, a violência e por último, contra o desequilíbrio político que assolou o país nos últimos quatro anos. São artistas, na sua maioria, que nunca se calaram. Nunca se omitiram.


Estes últimos meses não têm sido fáceis neste setor. A perda de Gal, no que pode ser considerado uma tragédia, joga o olhar para que toda uma geração começa o seu processo de pôr do sol. Isso me toca profundamente, pois penso nos meus heróis musicais que ouço no carro e em casa como Chico Buarque, Rita Lee, Gilberto Gil, Milton, Caetano e Betânia, para citar alguns.


Chamada para uma reflexão por uma querida amiga, tive que colocar o dedo na ferida e ver que não estava enxergando a possibilidade da partida física destas figuras. Eu só consigo olhar a arte. Eu não paro para enxergar os 78 anos de Chico, ou os 81 de Ney Matogrosso. Tudo que vejo é o encanto das letras e a presença no palco.


Não. Estes meus heróis não morreram de overdose. Tenho heróis que sim, que tombaram por ela, como Jimi Hendrix, Janis Joplin e mais recente Taylor Hawkins. Artistas novos e brilhantes que saíram de cena abruptamente, deixando o gosto de quero mais. Agora estes jovens senhores e senhoras que seguem no palco, iluminam, com suas têmporas banhadas por chuva de prata, os sonhos de antigas e novas gerações. Como diz Caetano Veloso na canção Oração ao tempo....

“Tempo tempo tempo tempo, vou te fazer um pedido...”. Eu faço um pedido de Mais Tempo ao Tempo.

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